quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

O abracadabra da política

Parece que não, mas há uma "fórmula mágica" para a política. Há uma equação, que se efetuada, pode levar partidos e seus líderes a triunfos políticos. Uma dessas equações poderia ser unir seus amigos, colegas, companheiros, ou seja, partidos políticos que compartilham da mesma ideologia, para a formação de uma base aliada fraternal. Mas a fórmula mágica das alianças políticas vai além disso. O foco principal não são seus amigos ou semelhantes ideológicos, e sim, seus inimigos.

Muito mais importante do que trazer para perto de si partidos políticos com afinidade para a construção de uma aliança, é que se identifique um inimigo comum. Um desafeto comum entre partidos de um país, semelhantes ideologicamente ou não. Com interesses comuns ou não. Muito mais importante que aliar-se ao seus "chegados", é construir uma aliança com o objetivo de derrubar um partido inimigo.

É o caso das alianças políticas no Brasil de hoje. Há alguns anos atrás, ainda antes do "mensalão", o PTB (Partido Trabalhista Brasileiro), o histórico partido de Getúlio Vargas, estava em plena harmonia com o PT, o Partido dos Trabalhadores. Ideologicamente semelhantes, e portanto, juntos em uma mesma base governista. Mesmo com a existência do "mensalão", PTB e PT permaneciam juntos por haver semelhança em idéias e posicionamentos sobre a política nacional. Nessa mesma época, o PP (Partido Progressista - do "progressismo" erroneamente caracterizado como liberal-) era da oposição. O "partido do Maluf", ex-PPB e PDS, herdeiro político da ARENA, fazia parte da oposição ao governo Lula. Já era de se esperar, o partido da ditadura contra o partido dos sindicalistas. Faz sentido. Hoje, porém, a situação é outra.

Nas eleições deste ano, o PTB estava ao lado dos demo-tucanos e de seu candidato, José Serra. O trabalhismo aliado ao conservadorismo e ao neoliberalismo de terceira via do PSDB/DEM. Uma aliança um tanto quanto duvidosa. Mas refletia o descontentamento da cúpula do PTB, que havia rompido com o PT meses depois do escândalo do "mensalão". Já o PP "de Maluf", estava aos poucos debandando para os lados da candidata petista Dilma Rousseff. O partido herdeiro da ditadura, se aliando à candidata ex-guerrilheira e subversiva? Reflexos da fórmula mágica da política: a união para enfraquecer ou derrotar um inimigo comum.

O PP, ao longo dos anos, se manteve neutro quanto a seu posicionamento na esfera política nacional. Durante o governo FHC, não fazia oposição, mas se negava a apoiar o presidente tucano abertamente. Claro que alguns de seus membros se identificavam com o pensamento neoliberal de Fernando Henrique, mas ainda assim, a posição do partido permanecia neutra. Chegada a Era Lula, o PP partiu então para uma verdadeira oposição. Porém, devido a desentendimentos passados, recusava-se a se aliar com os tucanos, tomando parte de uma oposição independente. Agora, em 2010, o PP se coloca oficialmente e a nível nacional ao lado da futura presidente Dilma. Uma posição jamais tomada pelo partido antes.

Com esta aproximação ao governo do PT, o PP pretende somente uma coisa: enfraquecer ainda mais os demo-tucanos. Provavelmente, a cúpula do "partido do Maluf" se cansou de ser a herdeira coadjuvante da ARENA, uma vez que nestas eleições o PSDB provou de vez sua inclinação golpista e direitista. O que o PP pretende é simples, derrubar ainda mais os tucanos e os democratas. Afundá-los ainda mais na lama. Não seria de se surpreender se, ao longo do governo Dilma, o PP se aliasse aos poucos com setores que nestas eleições mostraram apoio a José Serra. Seria perfeito. Ter setores conservadores da sociedade ao seu lado, e ainda assim, apoiando o governo petista. Seria como fazer uma oposição invisível, e portanto, extremamente perigosa.

Resta agora saber se, identificado o "inimigo comum", as alianças surpreendentes surgidas nestas eleições permanecerão. Ou se, ao longo da administração de Dilma Rousseff, as velhas divergências virão à tona e a quebrarão, fazendo cair a máscara daqueles que buscam nas alianças políticas nada mais do que parasitar os que estão no poder, tirando o sangue dos mesmos, para transformá-lo em veneno a ser destilado em eleições futuras.

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