terça-feira, 28 de agosto de 2012

A hipocrisia bateu com a cara no muro.

Reproduzo aqui um texto que encontrei na internet, de autoria do jornalista Eduardo Franco de Almeida (Edu Franco):


"O mensalão não apareceu nas contas dos parlamentares, nas contas dos paraísos fiscais ou nas ditas votações. Mas a farsa montada pela mídia e a unilateralidade do supremo está aparecendo como nunca. Pensando no baixo ibope que esse julgamento está tendo, acho que seria melhor ter mantido o mensalão como boato, pois o julgamento só está servindo para desmenti-lo. É o famoso tiro pela culatra.
A compra de votos no congresso não escandalizou a nossa ilustre burguesia quando FHC dissipou boa parte dos cofres, na época grandes devedores, para aprovar a sua reeleição. O congresso foi comprado em dois dias na cara da nação, liberaram-se verbas indiscriminadamente para quem votasse a favor e até um Ovniporto foi construído em uma pequena cidade. Na época, ninguém se escandalizou com isso. Nem a nossa classe média, nem a TV Globo, nem o Grupo Abril. A hipocrisia tem batido com a cara no muro. Todo ódio é, por princípio, burro."

A indignação seletiva da nossa pobre, hipócrita e manipulada classe média está cada vez mais sem cabimentos. A farsa do Mensalão, que prejudicou o PT e toda a centro-esquerda brasileira, está indo cada vez mais por água abaixo. Uma pena que essa mesma mídia, que armou todo este circo durante anos, jamais admitirá que mentiu e, sobretudo, jamais será responsabilizada por suas invenções.

domingo, 11 de março de 2012

São Paulo Copenhague

Nos últimos anos uma nova moda tem feito a cabeça da classe média pseudo-elitista,  hype e “moderninha” de São Paulo: o uso da bicicleta. Ainda que me pareça bizarro em alguns casos, cada vez mais pessoas estão adotando a “magrela” como meio de transporte, nesta cidade que é cheia de subidas e descidas, que possui 11 milhões de habitantes e uma frota de mais de 7 milhões de veículos.

Cada dia se torna mais comum, em algumas áreas de cidade, deparar-se com a cena de um ciclista pedalando em meio aos carros, entre as faixas, como as motos. O que na verdade é proibido, inclusive para motos. Agora, eu me pergunto: bicicleta como meio de transporte numa cidade como São Paulo? Com motoristas mal-educados? Onde a pressa é a principal característica da população? Com pouquíssima infra-estrutura para ciclistas? Não seria uma tragédia anunciada? Acho que deve-se, portanto, abrir um debate sobre a questão.

Qual o objetivo de se utilizar uma bicicleta no dia-a-dia? Mais uma alternativa limpa para o transporte individual na cidade? Fazer dela o principal meio de locomoção? Fazer das "bikes" - como a classe média americanizada de São Paulo a gosta de chamar - a solução para o nosso transporte? Se este é o objetivo, acho extremamente ingênuo que estes intelectualóides da classe média o defendam. Primeiro porque trocar o carro pela bicicleta é inviável em alguns casos. São Paulo é uma cidade extensa, são 1.522,986 km² de área. Área esta que é extremamente diversa geograficamente. Cheia de altos e baixos, subidas e ladeiras. Subir a Brigadeiro de bicicleta exige um belo esforço. Ou então pedalar pelas ladeiras dos Jardins, Perdizes ou Vila Madalena.

A distância também é um problema. Poucas pessoas tem a sorte de trabalhar próximo ao local onde vivem. Duvido muito que o trabalhador que precisa se deslocar todos os dias do Grajaú para Pirituba esteja disposto a percorrer cerca de 60 km (aproximadamente 30 km na ida e 30 km na volta) pedalando diariamente. Realmente, ele ficaria extremamente saudável, como a maioria dos ciclistas que cultuam o corpo sarado. Mas creio que também ficaria exausto demais para cumprir com suas funções diárias.

Portanto, é preciso que se analise o tipo de pessoas que estão tão engajados na luta pelo uso da bicicleta. Eu faço uma aposta: publicitários, jornalistas, designers, produtores musiciais, programadores da web e outros dedicados a profissões “moderninhas”, hypes, “prafrentex”. Duvido muito que um operário metalúrgico, um pedreiro ou qualquer outro trabalhador que se dedique a atividades braçais esteja disposto a voltar exausto, cansado e suado para a casa montado em uma bicicleta. Aposto com toda a segurança de que ele prefere pegar um trem com ar-condicionado e chegar rápido em casa, sem precisar se esforçar ainda mais para estar em seu lar.

Logo, insisto em que aqueles que defendem a bicicleta são parte da classe média intelectualóide paulistana com complexo de burguesia. E que agora parece estar desenvolvendo a “Síndrome de Copenhague”. Algum “bacana” da classe média resolveu viajar para Copenhague - e não Miami ou Nova York, como a pseudo-elite paulistana adora fazer - e achou “cool” o uso de bicicletas por lá. Só esqueceram de avisar o obtuso (acostumado à megalópoles) que a capital dinamarquesa possui quase doze vezes menos habitantes que São Paulo. Copenhague possui 549.050 habitantes na cidade e, ao todo, 1.199.224 habitantes na área urbana. A subprefeitura da Capela do Socorro, em São Paulo, possui 561.071 habitantes. São 12.021 pessoas a mais do que na capital da Dinamarca inteira. Só a zona sul de São Paulo possui mais que o dobro de toda a população da área urbana de Copenhague, totalizando 2.346.913 habitantes. São condições demográficas totalmente diferentes.

Outra coisa que deve ser levada em consideração: a frota de veículos. E eles são exatamente 7.012.795. Só de carros, temos mais de 5 milhões. Os automóveis, infelizmente, são os principais meios de transporte na capital paulista. Digo infelizmente porque poluem e causam trânsito. Mas isso seria facilmente resolvido com um metrô mais extenso, o que ainda está muito longe de acontecer. E é ele, somente ele, o trem, que pode substituir o carro em São Paulo. Não a bicicleta. Somos como Tóquio, Cidade do México ou Moscou. E não como Copenhague, Amsterdã ou Oslo.

E também temos que pensar na educação dos motoristas. Todos sabem que em São Paulo ela é minúscula e, na maioria das vezes, está ausente nas ruas. Aliás, sejamos justos. Ausente não só nos motoristas. Ausente também nos pedrestes e, inclusive, nos ciclistas. Eu mesmo já presenciei vários deles passando em sinal vermelho com sua “bike”. Talvez eles não saibam que, em Copenhague, a cidade linda, plana e pouco densa das bicicletas, os ciclistas também respeitam os sinais de trânsito. Até com mais cautela do que os motoristas de carros, pois sabem que estão em desvantagem e são mais frágeis. Cautela de um lado (dos ciclistas) e do outro (dos motoristas) também. Educação, bom-senso e consciência. Coisas que faltam - e muito - em São Paulo.

Então acho que antes de colocarmos bicicletas nas ruas (em seu devido lugar, e não no meio dos carros), é necessário educar e conscientizar a população de que existem meios alternativos de transporte nesta cidade já suficientemente caótica. E também é preciso educar os ciclistas, conscientizando-os de que mostrar o dedo do meio para motoristas, arrumar briga no trânsito e depois cair no meio do corredor de ônibus não é algo muito seguro.

E antes de transformar São Paulo nesta “Copenhague Gigante”, é preciso também reduzir o número de carros nas ruas. E para isso, só metrô. Nem todos moram no Paraíso ou Higienópolis e trabalham na Paulista. Tem gente que percorre longas distâncias diariamente e muitas vezes moram e trabalham em lugares onde o metrô não chega (como eu). E não culpo ninguém por não gostar de andar de ônibus. Acho que poucos gostam. Portanto, o carro acaba se tornando a única alternativa. Por isso recomendo que se façam manifestações exigindo das autoridades mais metrô. Ou mais trens de superfície. Ou então, que votem em políticos e partidos diferentes. Pois já vimos que estes que estão no poder não estão muito interessados em transporte ferroviário. Afinal, só inauguram estações em véspera de eleição e constroem 1 km de metrô por ano.

É por essas e outras que meu respeito por esses manifestantes “modernetes” pró-“bike” é muito pequeno. Você os indaga “São Paulo precisa é de mais metrô”, e a resposta vem rapidamente, como se estivesse pronta: “também”. Mas, levando-se em conta a posição social e a classe à qual pertencem estes indivíduos, tenho certeza de que votam nestes mesmos políticos que não constroem metrô. E que nos governam há quase 20 anos. Mas acho que eles não estão muito preocupados. É muito melhor pedalar sozinho em sua bicicleta, com o iPod no ouvido, ao som de indie rock, do que tomar um metrô cheio de trabalhador fedido. Dividir espaço com a “massa”.

Posso estar generalizando? Talvez. Mas não acho isso ruim. Exceções existem, mas atrapalham no entendimento do todo. Generalizo para resumir. Acredito que nas bicicletadas de São Paulo hajam trabalhadores, gente mais simples. Porque não? Eles também tem direito a usar bicicleta. Afinal, essa idéia não é elitista. Nem burguesa. Vide a bicicletada que ocorreu na Cidade do Cabo, na África do Sul. Nela só tinham brancos e loiros. Mas não. Não é um movimento elitista. Quem sabe um pouco de África do Sul entenderá a sutil ironia.