segunda-feira, 8 de novembro de 2010

Os eternos derrotados

As eleições acabaram. O Brasil escolheu seu governante. Os brasileiros elegeram seu (sua) futuro (futura) presidente. Dilma Rousseff sai vitoriosa dessas eleições. Lula sai vitorioso dessas eleições. O PT, o socialismo democrático, a esquerda brasileira e latino-americana, o Bolsa Família, os sindicalistas, os mais pobres, todos saem vitoriosos dessas eleições. Mas, mais importante do que a vitória de uns, é a derrota de outros.

O PSDB perdeu. O DEM perdeu. O FHC perdeu. O neoliberalismo perdeu. E com eles, perderam as elites, a burguesia, a aristocracia brasileira. O "bolsa esmola" venceu o "vai trabalhar, vagabundo" (Santas palavras de Chico Buarque). A derrota acachapante dos tucanos pela terceira vez consecutiva, demonstra reprovação do modelo neoliberal imposto pelo PSDB e São Paulo ao Brasil. Demonstra uma reprovação do elitismo. Demonstra que o candidato da "massa cheirosa" e do "Príncipe dos Sociólogos", não pode vencer o "Sapo Barbudo" e sua candidata "terrorista subversiva". A esquerda tomou conta do país, doa a quem doer.

Num país historicamente desigual, é compreensível que um candidato que tenha feito o possível para reduzir a pobreza no país - atingindo seus objetivos nesse sentido -, torne-se uma espécie de "referência" para os mais necessitados. Pessoas de classes sociais mais baixas, portanto, jamais votarão outra vez em um partido que seja visto como "elitista", e que quando está no governo (como já sabemos todos), não faz o suficiente para combater a pobreza e a desigualdade social. Mas isso não é uma prática partidária. Nem pessoal. É uma prática ideológica. É o neoliberalismo, é o "laissez-faire".

O PSDB surgiu como um partido social-democrata, um partido adepto da Terceira Via, popularizada por Bill Clinton e Tony Blair no início dos anos 90. Esta surgia com um propósito nobre e útil para a política: gerar uma maior proximidade entre a esquerda e a direita. Incorporava maiores liberdades econômicas, globalização e privatizações para governos de esquerda, e maior influência estatal na economia, cuidados com o bem-estar e programas sociais para governos de direita. Era um balanço, um equilíbrio, um meio-termo entre esquerda e direita, entre socialismo e liberalismo. Porém, se a idéia inicial do PSDB era introduzir a Terceira Via no Brasil, ao longo do governo FHC essa idéia se esvaiu. Talvez graças à proximidade dos tucanos com os liberais conservadores do PFL, antiga ARENA. Em seu governo, o PSDB lembrou-se da parte direitista e liberal da Terceira Via. Privatizou, priorizou o câmbio, o controle da inflação e as políticas monetárias. Mas se esqueceu do lado social. Não combateu, com força, a pobreza e a desigualdade social. Muito pelo contrário, sua política privatizante e cambial causou ainda mais desigualdade, aumentando o abismo social no Brasil.

Hoje, o PSDB tornou-se um partido de direita. O neoliberalismo - uma verdadeira arma de destruição em massa em um país como o Brasil - tornou-se sua principal ideologia. E a democracia cristã também, como demonstraram essas eleições. Mesmo com seu patrono Fernando Henrique se declarando abertamente ateu durante os anos 80, o PSDB se tornou uma espécie de "Tea Party" brasileiro. Um partido defensor da moral e dos bons costumes, que nestas eleições obteve o apoio da Igreja Católica Brasileira, da CNBB, da TFP e de outras organizações conservadores católicas. O PSDB, portanto, deixou de ser um partido social-democrata, de centro-esquerda, e seguidor da Terceira Via. Hoje ele é um partido liberal conservador, de direita, uma espécie de filial moderada (ou não) do DEM, ex-PFL.

Após sua terceira derrota nas eleições presidenciais, chegou a hora do PSDB mudar. Ou melhor, se renovar, se reinventar. Ele não deve "olhar para trás", ou "trazer de volta sua identidade", como disse FHC. Ele precisa olhar para frente. O PSDB precisa progredir se quiser manter seu lugar de destaque na oposição. E uma das primeiras medidas a serem tomadas para que isso aconteça é deixar de lado o "paulistismo", ou "paulicentrismo". São Paulo não é o Brasil. E o brasileiro não vota em São Paulo. O brasileiro vota no Brasil. O PSDB tornou-se uma espécie de novo PRP (o extinto Partido Republicano Paulista, da república do "Café com Leite"), um símbolo de São Paulo. Um símbolo da oligarquia paulista e sudestista. E olhe que nestas eleições, até o próprio sudeste o traiu. Em Minas e Rio, deu Dilma. Portanto, o PSDB precisa sair de São Paulo. Precisa sair das elites. Precisa sair do neoliberalismo. Ele deve renascer, reviver seu lado social-democrata, progressista, de centro-esquerda. Precisa deixar de lado o discurso conservador e retrógrado, e tornar-se defensor da modernidade.

Os tucanos precisam aprender a viver o Brasil. A tomar decisões nacionais, e não regionais. Precisam de mais Aécio Neves, com o reflexo e proteção de seu falecido avô - o eternamente querido Tancredo -, e de menos José Serra e a sombra de FHC e sua era de desigualdades. O brasileiro não vota mais em moeda e estabilidade cambial. Brasileiro hoje vota em combate contra a desigualdade social e pela distribuição de renda. Portanto, o PSDB precisa esquecer Fernando Henrique. Esquecer Serra e São Paulo. Precisa olhar para o Brasil e trazê-lo para perto de si. Precisa trabalhar a imagem de um líder verdadeiramente simpático e carismático se quiser ter chances nas próximas eleições. Ou então, vão continuar com Serra "e FHC" (que não se gostam muito), com São Paulo ao invés do Brasil, e continuarão representando uma página virada de nossa história, uma era para qual os brasileiros olham e pensam: "ela cumpriu sua função, mas já passou. E agora, nunca mais".

Nenhum comentário:

Postar um comentário